domingo, 19 de fevereiro de 2012

Os Portugueses merecem mais respeito

O ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, proferiu com grande veemência e convicção algo que fere quem o ouviu.
"Sabemos que hoje muitas famílias estão a atravessar sérias dificuldades, vítimas do sobreendividamento, vítimas do desemprego e de casos de desestruturação familiar e social. É por isso que queremos contratualizar com as instituições sociais a confecção e distribuição de refeições, para consumo no espaço da instituição mas também em regime de "take away" - isto é, para consumo no domicílio das famílias".
"Temos pessoas que recebem valores acima da média", disse o ministro, acrescentando que em 20% dos casos, os pensionistas recebem acima de 1000 euros em pensões.Temos de ter muito rigor na atribuição destas pensões. A lei diz que não se deve pagar este complemento social a quem recebe acima da pensão mínima."Os pensionistas têm a obrigação de declarar todas as pensões que recebem e estes pensionistas não o fizeram".
É preciso ser insensível. Como pode alguém pensar que uma medida de carácter assistencialista pode satisfazer as pessoas.
Não seria preferível pagar às pessoas o que elas merecem pelo trabalho desempenhado?
Se as pessoas auferissem rendimentos compatíveis com uma vida digna, a situação seria bem diferente. Uma vida de trabalho, muitas vezes com grandes sacrifícios, e pensões que deveriam envergonhar-nos como cidadãos conscientes e defensores de valores de carácter humanista, parecem não chocar quem detém responsabilidades políticas.
As medidas proclamadas não são inovadoras.
A duquesa de Palmela, Maria Luísa de Sousa Holstein Becker, juntamente com outras personalidades, teve a iniciativa de criar a primeira Cozinha Económica (1893 -  Monarquia). A Sopa dos Pobres foi criada por Sidónio Pais na Primeira República. Os tempos eram outros.
Não posso deixar de pensar que procedimentos desta natureza representam um recuo civilizacional.
É obsceno ter a coragem, ou melhor, o atrevimento de anunciar medidas que humilham os mais fracos, julgando com "ar inocente" que agem em função dos  seus interesses e trabalham para a resolução dos seus problemas, distribuindo pequenas esmolas que, no seu entender, só poderão ser bem acolhidas.
A idade deste excelso ministro pode não lhe conferir a sabedoria e a experiência que lhe permitiriam ter um outro discurso, mas a sensatez deveria acompanhar, sempre, o seu pensamento e a sua acção. Justificar o injustificável, dizendo que o Estado não tem dinheiro e é preciso fazer sacrifícios, esquecendo-se, propositadamente, que os que têm benesses e altos rendimentos, acrescidos de vários privilégios, têm sido os mais poupados, é revoltante.
Só podem estar a brincar connosco. Todos temos a noção exacta que as políticas adoptadas não acabam com as situações de grande injustiça, porque não há da parte de quem exerce a governação essa vontade, pois também eles perderiam no presente e quiçá, num futuro próximo, as mordomias que foram institucionalizadas ao longo do tempo, como se tratassem de direitos.
Continuamos a ver, no pleno exercício  da sua actividade, pessoas que recebem uma remuneração em acumulação com reformas. É imoral e incompreensível. Dizem-nos que os valores decorrentes desta situação escandalosa não são significativos. Alguém acredita? Nem os que colhem os benefícios que persistem em proceder a análises explicativas da situação a que chegou Portugal.
Os Portugueses merecem mais respeito.
Nada justifica que nos tratem como mentecaptos e sejam incapazes, apenas porque não querem, de recorrer à verdade, pondo de lado o cinismo e a indiferença com que falam de nós e para nós.
É de lamentar que a palavra rigor esteja ausente, quando agem em causa própria, e a falta de memória marque presença nas justificações titubeantes que pronunciam.
Que será feito de um político, líder do partido CDS/PP (Democracia Cristã - inspirado na doutrina social da Igreja) a que pertence este Sr. ministro, que até há bem pouco tempo, chamava a nossa atenção para as condições de vida dos mais carenciados, manifestando uma grande preocupação e afirmando que era imperioso uma mudança de políticas e de políticos.
Mudaram os políticos, mas as condições dos mais desfavorecidos não se alteraram e as promessas feitas não se estão a concretizar.
Pelo contrário, aumentou o número de pobres e surgiram de forma preocupante e assustadora, novos pobres. A classe média vive angustiada ao ver que é expropriada e não vislumbra no horizonte sinais de mudança.
Este político remeteu-se ao silêncio, mas como homem inteligente que é, sabe que as condições apenas se alteraram a seu favor e não daqueles que, repetidamente, dizia serem a sua preocupação central.
Ironia, falsidade, ou palavras vãs, ditas apenas com o intuito de colher benefícios?



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