sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

É impossível Calar a Indignação. Soma e segue...



Frases infelizes vão-se acumulando, crispação, ar austero, alguma agressividade, mas uma preocupação permanente, a de dar a imagem que é um simples cidadão, sem culpa, sem responsabilidades, igual ao seu semelhante, que também tem dificuldades na gestão do seu parco orçamento, resultante das reformas acumuladas e das poupanças permanentes.
Tudo isto em conjunto com a sua mulher, companheira de uma vida bem orientada e vivida com simplicidade e modéstia.
É possível imaginar quão difícil é viver com uma reforma de 1300,00€ acrescida de 800,00€ , quantia correspondente à reforma da sua mulher!
Pasme-se, dispensou o vencimento a que teria direito, como se tratasse de um nobre gesto, só faltou dizer a bem da Nação...
Portugal está mal, mas permanece um Estado de direito com leis que todos têm que respeitar e cumprir. Não se trata de um acto de generosidade, mas do cumprimento da lei que proíbe a acumulação de pensões e de vencimentos no sector público. Não abdicou de um vencimento, foi obrigado, por lei, a optar. Preferiu o valor mais elevado.
Abstenho-me de procurar uma justificação, porque não será difícil saber do que se trata, mais uma vez a via escolhida foi a que se traduziu num benefício.
Foram as poupanças que, certamente, facilitaram a cumulação de um pecúlio que pôde ser multiplicado num curto espaço de tempo.
Sorte? Para ele e respectiva família, talvez. Todos sabemos que a sorte, nestas circunstâncias, atinge muito poucos e, normalmente, os bafejados são sempre os mesmos.
Será que têm uma inteligência superior? Olho para o negócio, ou, melhor dizendo, para negociatas? Obra do acaso?
Não deixa de ser revoltante ver a imagem, a forma e, sobretudo, o conteúdo da afirmação.
Poder-se-á pensar que se tratou de um momento infeliz, não pensou no que disse, ou o que disse não corresponde ao que pensa.
Na minha opinião, não há argumento que diminua a minha indignação e fiquei atónita com tamanha desfaçatez.
Com se sentirão os que recebem, esses sim, menos de 200,00€, ou os que, recentemente, foram surpreendidos com os cortes feitos nas suas reformas ou aposentações?
Claro está, que não me refiro às pensões douradas recebidas por alguns, que não tiveram que trabalhar tanto tempo como os outros, e podem continuar a desenvolver actividades noutros sectores, usufruindo de um processo cumulativo de rendimentos. 
Uma pergunta se impõe. Qual é a ética subjacente a tais procedimentos?
Duvido que a consciência dos que produziram legislação que lhes confere vastos privilégios não seja acometida de inquietação, a não ser que a sua formação lhes impeça de ver o que está à vista de todos. 
Por outro lado, não se vislumbra a vontade de alterar diplomas legais que permitem a manutenção de regalias, geradoras de injustiça, por muitos propagada, mas que nada fazem.
Não está em causa o valor do salário que um Presidente da República deve auferir.
Faz parte do senso comum, que um lugar desta envergadura deve ser bem remunerado. Trata-se da primeira figura do Estado, que o representa e, nessa qualidade, nunca deveria ter um salário inferior à maioria dos gestores públicos.
A questão é outra.
Como interpretar um discurso que visa chamar a atenção para a necessidade da distribuição equitativa dos sacrifícios? Como podemos estabelecer uma comparação com o que foi dito, quando é sabido, que todos sabemos, que o que foi dito não corresponde à verdade?
Foi sua intenção aproximar-se dos mais desfavorecidos?
Considera admissível que sejamos desprovidos de inteligência, ou fiquemos indiferentes ao que foi dito?
Não menospreze a sua inteligência.
Respeito as ideias diferentes das minhas, mas não aceito falsidades. Não consigo nem quero calar a dor que me vai na alma, sempre que vejo e ouço alguém dizer o que não deve.


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