Foi com grande espanto que vi e ouvi um dos nossos "doutos ministros" expressar com grande convicção um conjunto de ideias, peço desculpa, pois mais parecia um conjunto de disparates.
A sua mente iluminada facilmente lhe permitiu concluir, que os jovens portugueses têm uma alternativa, que deverá ser, por eles entendida, como a grande oportunidade para a resolução dos seus problemas. Não é difícil saber do que se trata, nem sequer constitui uma inovação, dado que, anteriormente, alguém, igualmente iluminado, apresentou a mesma proposta. Claro está que se trata da emigração.
Frases brilhantes foram proferidas, que passo a citar: "olhar outros mundos". "Se nós olharmos para a nossa História, sabemos que sempre que nos encostaram ao oceano foram os momentos de maior glória da nossa História".
Pois é, será que foi o conhecimento que tem da História lhe proporcionou chegar a esta conclusão?
Conhecer a História possibilita a compreensão e a contextualização dos acontecimentos, evita que conclusões desta natureza sejam retiradas.
Não teria sido mais acertado dizer, quando olhamos para a nossa História, verificamos que poucos foram os momentos em que, aqueles que tinham o poder de decidir e promover o desenvolvimento e o progresso de Portugal não tiveram essa capacidade. Faltou-lhes o engenho e a arte, não porque fossem isentos de faculdades, mas porque outros interesses falaram mais alto, os deles próprios e os das elites que em seu torno gravitavam.
Como é possível alguém, que recentemente viajou até Moçambique, dizer publicamente que recorda o contacto que teve com jovens licenciados portugueses a trabalharem em Maputo e apreciou a sua maneira "de ver o Mundo com outros olhos e a sua capacidade de se adaptarem a novas realidades, ficando com a sensação de que a pátria deles é o momento onde estão, a circunstância em que estão". "Esta é uma emigração bem preparada".
A emigração, qualquer que seja a época a que nos reportemos, tem várias razões que a justificam, mas há uma que é transversal e se traduz na procura de melhores condições de vida.
Portugal foi sempre um país de emigração e uma multiplicidade de factores explicam-na, no entanto, uma questão poderá ser colocada.
Será que aqueles que têm responsabilidades de governação deverão enfatizá-la? Não seria mais adequado e construtivo apresentar um discurso que tivesse no horizonte a adopção de atitudes que visassem o crescimento económico, através de medidas que denotassem mudanças estruturais e exigem a coragem de mexer com interesses instalados e proporcionados por muitos, que nos últimos trinta anos, salvo raras excepções, ocuparam lugares onde deveriam ter colocado o interesse nacional acima do interesse pessoal?
As pessoas são o principal capital de qualquer país, mas quando alguns conseguem atingir posições cimeiras, "quase sem saber ler, nem escrever" e com pouco esforço, está tudo dito.
É pena, que quem assim pensa e ousa comunicar tais convicções, não tenha seguido essa via, pois, certamente, teria sido mais útil, sobretudo para nós, simples mortais, que sofremos com a incompetência e os desmandos dos que, constantemente, se atrevem a dizer que fazem o melhor por nós.
Com certeza são os únicos que acreditam nas suas palavras traiçoeiras que revelam, no mínimo, falta de consideração e de respeito.
É fácil, quando o trabalho desenvolvido corresponde, essencialmente, ao exercício de cargos políticos, o mesmo será dizer, viver à custa dos impostos pagos por alguns e mal geridos por outros.
Não será por acaso, que mentes brilhantes são assaltadas pelo vazio e pela indiferença mascarada de uma falsa preocupação.
O Vazio - Abelardo Zaluar
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