Propostas anunciadas,
propostas alteradas e expectativas goradas. A indignação e a revolta crescem e
levam as pessoas a manifestarem-se e a mostrarem que a força da razão que as
envolve de esperança é partilhada em torno do que é legítimo, uma vida digna em
que o respeito, a justiça e a equidade sejam os pilares.
O enorme aumento de impostos inscrito no Orçamento de Estado e comunicado por Vítor Gaspar, que fez questão de sublinhar a progressividade e a
maior equidade, fez disparar um conjunto de análises e comentários. A redução
do défice, o equilíbrio orçamental, o crescimento da economia e a inversão da
taxa do desemprego foram a fundamentação explicitada.
O espanto, a incompreensão e a
preocupação são visíveis. O receio e, nalguns casos, o pânico instalam-se.
Paulo Portas no debate
quinzenal, na Assembleia da República, manteve-se silencioso, entre risos
infelizes trocados por Passos Coelho e Miguel Relvas, mas fora do hemiciclo
afirmou ser preciso mudar significativamente, incluindo o próprio Estado.
Vozes dissonantes,
provenientes de quadrantes diferentes, são ouvidas e explicações dadas
demonstram que as políticas cegas e cujo impacto parece não ser avaliado,
contrariamente ao que é dito, não irão contribuir para alcançar as metas
pretendidas. Os epítetos escolhidos apontam na mesma direcção: “o aumento do
Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (IRS) é um assalto à mão armada”, (Marques Mendes) “bomba de
napalm”, (Bagão Félix), “bomba atómica lançada sobre os Portugueses” (António
José Seguro).
Todos sabemos que a
Intervenção externa é tripartida, o mesmo será dizer, que resulta do Fundo
Internacional Monetário (FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu
(BCE).
Cristine Lagarde, presidente
do FMI, alertou para os efeitos recessivos da austeridade, que têm sido subestimados pelos governos europeus, e reconheceu que as medidas
de contenção orçamental aplicadas tiveram um impacto negativo na economia, superior ao previsto, como é o caso de Portugal. A projecção feita apontava
para que por cada euro de cortes de despesa pública ou de agravamento fiscal se
perderia 0,5 euros no Produto Interno Bruto (PIB), mas a realidade mostra que o
valor é maior, situa-se entre 0,9 e 1,7 euros. Estes erros de cálculo são
significativos, logo não devem ser ignorados e indicam que é necessário e urgente a alteração das políticas seguidas.
Durão Barroso, presidente da
Comissão Europeia, afirmou em Bruxelas, no dia 11 de Outubro, que os governos
são os responsáveis pelas medidas de austeridade, salientando que estas não são
uma imposição da CE, do FMI nem do BCE: “Não
é a “troika” que decide as medidas que irão ser aplicadas, mas os governos.”
Os maus resultados obtidos não
desviam os responsáveis políticos do rumo que traçaram, persistem no erro, não
dão ouvidos àqueles que os alertam e ignoram o sofrimento dos Portugueses
vítimas das suas práticas. Perante este panorama, impõem-se algumas perguntas?
Estamos na presença de
políticos incompetentes e insensíveis?
Estamos na presença de um
governo que perdeu o rumo?
Estamos na presença de pessoas
que querem impor uma ideologia, em que os valores e os direitos são
secundarizados?
O que esperamos? A definição de políticas que invertam a situação presente e garantam a sustentabilidade das nossa vidas.
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